6 de abril de 2010

Soneto

Ó tu do meu amor fiel traslado
Mariposa entre as chamas consumida,
Pois se à força do ardor perdes a vida,
A violência do fogo me há prostrado.

Tu de amante o teu fim hás encontrado,
Essa flama girando apetecida;
Eu girando uma penha endurecida,
No fogo, que exalou, morro abrasado.

Ambos de firmes anelando chamas,
Tu a vida deixas, eu a morte imploro
Nas constâncias iguais, iguais nas chamas.

Mas ai! que a diferença entre nós choro,
Pois acabando tu ao fogo, que amas,
Eu morro, sem chegar à luz, que adoro.


Gregório de Matos Guerra (Boca do Inferno)


Gosto imensamente desse soneto, assim como gosto imensamente das escritas do Gregório de Matos. Conheço poucas poesias dele, é verdade, mas gosto de todas as que conheço e acho genial o modo dele retratar a efemeridade desse mundo.

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